sábado, 3 de abril de 2010

Caro Werther,

Por onde teus pés têm te levado? Como estou curiosa! Conte-me como é o Paraíso!
Sei bem que teus últimos passos pela Terra não foram tranquilos. Será que poderia ter existido outro fim para ti? Certamente, o tal não o levaria a tantos cantos ao redor do mundo.
Amigo, valeu a pena o teu sacrifício? Foi sacrifício? Ou apenas uma busca por um modo menos doloroso de viver? Devo confessar-te o quanto reprovei tuas atitudes. Lendo tuas lembranças, as lembranças de tua história trágica e passional, senti estar lamentando a morte de um irmão! Querido, como teus sofrimentos e os meus são semelhantes. Causados por motivos diferentes, é verdade, mas eternamente semelhantes.

“Apenas não devo lembrar-me de que em meu íntimo existem tantas outras forças inaproveitadas, que degeneram e que devo ocultar cuidadosamente. Ah, isso me aperta o coração! No entanto, ser incompreendido é o destino de pessoas como eu."

Tua inteligência me cativou. Teu modo de lidar com as palavras e de saber tão bem encaixar a razão dentro de sentimentos alucinantes tornaram-me uma admiradora infinita de ti.

“A espécie humana é sempre igual, não muda nunca. A maioria gasta todo o seu tempo para sobreviver, e o pouco que lhe resta de liberdade causa-lhe tanta preocupação que ela busca por todos os meios livrar-se desta carga.”

Andei refletindo tanto durante todo este tempo! Acabei convencendo-me que tuas atitudes foram guiadas pelo desespero e enfermidade; nada foi culpa tua. Perdoe-me se algum dia te julguei. Dói-me pensar que realmente possam existir doenças tão avassaladoras como foi o teu mal.


“Ah, esse vazio! Esse vazio terrível que sinto em meu peito! Quantas vezes penso: “Se pudesses uma vez, uma vez apenas, apertá-la contra esse coração, o vazio todo seria preenchido.”

Ah, Werther! Eu mesma posso sofrer como tu algum dia. Entretanto, duvido muito que teria o mesmo fim. Perduraria com meu sofrimento até a morte, alimentando-me unicamente de meu orgulho. Sim! Sou demasiadamente vaidosa para tirar a minha vida em nome de alguém.
Imagino como está Carlota. Deve sofrer tanto! Ela sempre te amou, nunca duvide disso, amigo. O coração daquela mulher deve estar inchado até hoje, em razão do sentimento acumulado que nunca pôde transparecer.

“Seus sentidos se confundiram, ela apertou-lhe as mãos, premiu-as contra o peito, inclinou-se para ele com uma emoção melancólica, e suas faces ardentes se encontraram. O mundo inteiro apagou-se ao seu redor.”

Creio que tu já tenhas te aquietado, te conformado. Estás em paz, não? Espero que sim! Um dia nos encontraremos para discutir sobre todos os assuntos que tanto abandonam nossa mente em estado de inquietação. E Carlota estará a nossa frente, cuidando de seus irmãos como sempre! Nesse lugar, Alberto existirá apenas como um amigo, tenha certeza.
Meu querido, é chegada a minha hora de partir. Devo voltar à minha vida, e tu aos Céus!
Um abraço,
Bianca.

- trechos retirados do livro "Os sofrimentos do jovem Werther", de Goethe.

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